Projeto Gris no Japão!

Esse mês a Noriko Tanaka, correspondente em terras tupiniquins do site japonês Wotopi, entrou em contato comigo para fazer um artigo sobre o Projeto Gris!

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Projeto Gris em japonês!

Tivemos um papo super legal, onde contei pra ela sobre meu processo e ela me contou como as japonesas são ainda mais reticentes sobre cabelos gris do que nós, brasileiras – o que, confesso, me impressionou muito. Sempre chega pra gente aqui aquelxs japonesxs modernérrimxs, com cabelos ousados e coloridos, então tinha a sensação que elxs eram bem tranquilxs sobre isso, mas ela me contou que essa modernidade é aceita apenas aos jovens. Quando se entra na vida adulta as mulheres são “pressionadas” a seguir um padrão de beleza de cabelos castanhos ou pretos, com cortes mais comportados. O gris lá só é assumido por mulheres pra lá de 60 anos, e não com muita frequência.

Noriko viu na minha história uma oportunidade de mostrar para as japonesas que é possível sim assumir seus cabelos naturais, independente de sua idade! E eu fiquei muito feliz de pode falar pra gente do outro lado do mundo que o que importa é ser feliz como se é!

Abaixo vai a transcrição que a Noriko gentilmente fez da entrevista (o google tradutor é péssimo em japonês-português). Mas vale dar uma olhada lá no Wotopi pra prestigiar o trabalho dela! ;)

http://wotopi.jp/archives/42493

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“Por que eu assumo meus cabelos brancos” – Entrevista com a blogueira grisalha do Brasil

Por Noriko Tanaka

Elisa Colepicolo (34 anos) mora no Rio de Janeiro, Brasil. Ela decidiu “assumir seus cabelos brancos”, e começou a escrever o blog “Projeto Gris” há dois anos para incentivar mulheres jovens grisalhas. O blog dela acabou fazendo sucesso entre as mulheres grisalhas e ela tem sido entrevistada pela mídia, por vários jornais.

Cabelos brancos muitas vezes são vistos como sinal de “desleixo” e “velhice”, mas por qual motivo ela decidiu assumir isso? O que ela conseguiu perceber com esta decisão?

 

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Motivo de parar de tingir o cabelo

– Quando os cabelos grisalhos começaram a aparecer?

Elisa Colepicolo: A primeira vez que eu achei fios brancos foi quando eu tinha 16 anos. Mas tinha só um fio, depois outro fio… Comecei a passar tonalizante no cabelo mas era simplesmente por diversão.
Depois dos vinte e poucos anos tinha que tingir todos os meses, e quando fui chegando aos 28 anos o tonalizante começou a ficar complicado, ele desbotava rápido. E resolvi passar para a tintura, mas meu cabelo foi ficando muito ruim, ficou danificado, comecei a ter muita queda.
Depois de parar de tingir que percebi que não caía mais tanto, foi então que descobri que isso era por causa da tintura.
Quando cheguei aos 30 anos, comecei a me questionar “E se eu parasse pintar o cabelo…?”

A referência foi Sarah Harris da Vogue inglesa.

Colepicolo: Muitas brasileiras fazem coisas para parecerem mais novas, como por exemplo botox, cirurgia, etc… E é difícil de quebrar essa barreira.
Acho que tem duas ideias muito difundidas: “Mulher jovem não pode ter cabelo branco” e “Se ter cabelo branco, não pode ter cabelo comprido”.

Quando estava procurando mulheres que assumiram seus cabelos brancos eu achei a Sarah Harris, uma editora da Revista Vogue inglesa. Ela foi a primeira mulher jovem que eu achei que realmente era natural. E descobri que ela também começou a ter cabelo grisalho aos 16 anos e com 31 anos já estava todo grisalho. Ela tem cabelo comprido até quase a cintura, e bem grisalho. E ela é muito bonita e elegante! Eu comecei a pensar “Dá pra ter cabelo branco! Pode ficar legal! Então… por que não tentar?”

O marido não era muito favorável, mas…

– Você falou pra outras pessoas sobre o seu pensamento de não tingir mais o cabelo? O que eles acharam?

Colepicolo: Meu marido inicialmente não curtia muito a ideia… “Ah, não! Por que parar de tingir? Você ainda é muito nova!” (risos)

– Quando parou de tingir mesmo?

Colepicolo: Quando estava com 31 anos, em abril ou maio, meu marido entrou de férias do trabalho e perguntou “O que você acha se eu descolorir meu cabelo?” Ele também era grisalho. Eu respondi “Vai lá, descolore! Cabelo cresce. Se não gostar, depois corta ou pinta de novo…”.

Ele ficou meio impressionado de eu aceitar a ideia dele, mas descoloriu e adorou. Realmente ficou lindo, combinou super com ele. E ao mesmo tempo, ele ficou sem argumentos. “Se ele podia descolorir, por que eu não podia deixar de pintar?!” (risos)

Aí em julho daquele ano, na época de completar 32 anos, resolvi parar de tingir, e comecei o blog.

Queria fazer “algo” para as mulheres que não queriam mais pintar

– Por que você começou o blog “Projeto Gris”?

Colepicolo: Eu já procurava na internet mulheres grisalha desde os 30 anos, época que comecei a pensar em parar de tingir, mas só achava mulheres bem mais velhas do que eu, nunca da minha idade, nunca nem perto da minha idade. E quando achava alguma coisa era em inglês, como Sarah Harris. Mas não achava nada em português.

Fiquei pensando na quantidade de mulheres que passavam pela mesma coisa que eu, que tinham essa curiosidade de saber como é que mulheres jovens ficam quando assumem o cabelo branco, mas não conseguiam achar nada. Aí, já que eu ia fazer isso, eu podia fazer o processo fotografando pra mim e compartilhar pra ajudar outras pessoas também.
“Tenho cabelos brancos, e daí?!”

– Depois de começar o blog, como foi repercussão?

Colepicolo: Não posto todo dia, escrevo a cada 2 meses ou 3 meses. Porque tem que ter alguma mudança no cabelo. No começo, não tinha muito acesso. Quando fez 1 ano as pessoas começaram a chegar no blog. Meu cabelo ficou maior e fios brancos ficaram mais aparentes.

Quando completou 2 anos do Projeto Gris eu estava vendo o Facebook e apareceu essa página, “Tenho cabelos brancos – e daí?!”, como sugestão acesso. Aí fui ver como era e vi que mulheres falavam ali sobre os cabelos delas.

Aí eu escrevi. Minha postagem original recebeu quase 1000 curtidas, e quase 100 comentários. Então o site “Hypeness” compartilhou minha postagem e meu blog bombou. E fui entrevistada pelos jornais famosos daqui também. O negócio foi virando uma bola de neve.

Eu jamais imaginei nada disso só pelo simples fato de não pintar mais meu cabelo. E agora até no Japão! (risos)

No meu blog muitas mulheres novas comentaram que “tiveram medo de não pintar mas que agora começaram a ter coragem” ou esse tipo de coisa. Antigamente eu que procurava isso e agora estou feliz em conseguir incentivar mulheres que só querem ser felizes.

Muita gente acha estranho eu assumir meus cabelos brancos tendo menos de 35 anos. Mas cabelo branco nem sempre significa “velhice”, é uma coisa genética, então mesmo eu sendo jovem ele cresce!

Nos primeiros meses que eu parei de tingir as pessoas na rua me perguntavam “Porque não pinta cabelo?! Você é tão nova!…”. Mas agora muita gente me diz “Está bonita!”, “Ficou legal”.

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Importante é “TER CONSCIÊNCIA DA ESCOLHA”

– Favor deixar uma mensagem para as mulheres japonesas.

Colepicolo: Não quero que vocês achem que eu sou contra pintar cabelo. Se você gosta de pintar cabelo, se divirta, continue! Mas se não gosta, pare! Tente! Você vai se olhar no espelho e se achar bonita, isso é ótima decisão.

Isso não é só para o cabelo mas sim para qualquer coisa que você faça. O ruim na vida é a gente fazer as coisas por obrigação. Isso não vale a pena. Importante é ter consciência da escolha. As pessoas querem ser igual a todo mundo mas você não precisa ser igual a ninguém. Todo mundo nasce diferente. Os outros vão dizer como você deve ser ou se comportar mas você que tem que procurar o que TE faz feliz.

Mas isso aí ninguém vai te dizer, não. Você mesma que vai achar o seu caminho.

 

 

Gris ou não Gris – eis a questão.

Desde a matéria do Hypeness, dO Dia e, depois, do G1, muita gente me procurou e procurou o blog. Mulheres que, como eu, sentem vontade de se libertar da pressão para tingir o cabelo.

É preciso deixar uma coisa clara: não tem nada de errado em tingir o cabelo. Se você sente prazer com o processo e com o resultado, maravilha! Curta seu momento em casa ou no salão. Curta seus fios coloridos – de qual cor você escolher. O importante é que você está feliz.

Mas se você acha que seu cabelos terem cores artificiais não é estímulo suficiente para que você passe por horas de tingimento uma ou duas vezes ao mês, então pare.

Entenda uma coisa: você não precisa fazer isso. Você pode. Se você quiser. E a pergunta é: você quer?

O que eu quero dizer é que tingir o cabelo (e tudo mais o que você faz com o seu corpo) tem que ser uma escolha. Você tem o direito de refletir sobre o assunto, entender o quanto isso te afeta positiva ou negativamente, e tomar a decisão que vai te deixar mais feliz. Independente dos outros. Independente do que você está acostumada a achar que é o “certo”. Certo é o que vai te fazer feliz.

A vida é curta demais pra viver aprisionada a medos e infelicidades.

Ainda mais quando estamos falando de coisas completamente alteráveis, como cabelos. Se você não detonar o seu couro cabeludo, você poderá fazer o que quiser com seu cabelo em curtos períodos de tempo. Cortar, tingir, parar de tingir, deixar crescer. A escolha é sua.

Então vamos começar por aí. O que é mais importante pra você: se sentir livre do tingimento ou manter a cor que você nasceu ou escolheu ter?

No meu caso, eu detestava tanto o processo de tingimento e estava tão infeliz com o resultado dele no meu cabelo que, apesar do medo, decidi que queria tentar não tingi-lo. Não foi uma decisão fácil. Demorei mais de um ano refletindo sobre o assunto. Não conhecia ninguém por perto que tivesse minha idade e tantos cabelos brancos quanto eu. A única referência que eu encontrei foi a jornalista Sarah Harris, editora de moda da Vogue inglesa, que tem a minha idade e longos cabelos gris. Me senti encorajada por ela. Ela fez com que eu não me sentisse louca sozinha. Porque isso vai sim acontecer. Em algum momento você vai se sentir louca de estar na contra-mão do mundo. Você vai se perguntar por que está fazendo isso. Você vai se olhar no espelho e se sentir feia. Porque você se acostumou com o mundo dizendo que cabelos gris são feios, que mulheres jovens não podem ser gris, que não é possível sair fora do que o mundo conhece como “normal”. Você vai bambear na decisão, especialmente antes de terminar a transição da tinta pro gris. Vai acordar de manhã, se olhar no espelho e perguntar quem é a pessoa que você está olhando. Afinal, você passou mais de 30 anos olhando para uma mulher de cabelos castanhos (ou pretos, ou loiros, ou ruivos) e, do nada, ela não existe mais. Você vai ter que se acostumar a outra você.

Todo mundo precisa de referência. A minha foi Sarah Harris.

Todo mundo precisa de referência. A minha foi Sarah Harris.

Não quero desanimar ninguém com esse papo. Ao contrário. Estou sendo realista pra dar a real noção do que vai acontecer. Você vai conhecer outra pessoa, outra você. E se você vai gostar dela ou não, você só vai descobrir tentando.

Porque também tem isso. Quando falamos em se libertar da tintura, não precisa ser pra sempre. Você tem todo o direito de não gostar. De pensar que você prefere mesmo tingir. Não tem problema mudar de ideia. Não tem problema não gostar. Mas tem sim problema querer e não tentar. Porque você vai sempre ficar com a sensação que nem tentou, que não teve coragem, que não aguenta mais fazer o que faz mas não teve forças… para ser você.

Sempre me perguntam se eu gosto do meu cabelo como está hoje. Eu respondo que sim, porque é verdade. Mas eu tenho a tranquilidade de saber que eu posso mudar de opinião quando eu quiser. Porque o cabelo é meu, o corpo é meu, a vida é minha. Eu só tenho que me sentir feliz. Senão, de que adianta?

E você, está feliz?

Se você souber inglês ou se entender bem com o google tradutor, abaixo vai o link de uma entrevista que a Sarah Harris deu para o jornal The Telegraph, contando sobre seu gris.

http://www.telegraph.co.uk/women/life/ive-had-grey-hair-since-i-was-16/

Tod@s querem liberdade!

Essa semana que passou publiquei um depoimento na página “Tenho Cabelos Brancos, E Daí?” do Facebook. Contei da minha experiência pessoal e do Projeto Gris. Pra minha surpresa a postagem bombou, com quase mil curtidas, centenas de comentários e dezenas de compartilhamentos!

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Por conta disso, a Brunna Condini, jornalista do jornal O Dia aqui do Rio de Janeiro, entrou em contato me convidando para participar de uma matéria sobre mulheres gris, que sairia no final de semana. Saiu! Você pode ver nesse post aqui.

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Projeto Gris no jornal O Dia

Também por causa disso o site hypeness.com fez uma matéria sobre a postagem e como as mulheres estão curtindo ser gris! Você pode ver nesse outro post aqui.

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Projeto Gris no Hypeness.com

Sabe o que isso quer dizer, na minha opinião? Que as mulheres estão ansiosas por liberdade! Querem ser elas mesmas, ser feliz como são – e todo empurrãozinho é bem-vindo.

Fico feliz em poder inspirar outras mulheres que não gostam de tintura a se libertar, mas quero dizer que não é só da tintura: liberte-se dos hábitos que você não gosta, que não te fazem feliz. Não se obrigue a ser diferente do que você é porque os outros “falam” ou “acham”, ou porque as revistas de beleza “ensinam”.

Seja você! Seja feliz! ;)

Hypeness.com: “As mulheres estão assumindo seus cabelos brancos; não importa a idade”

por Redação Hypeness

Foi-se o tempo em que cabelos brancos eram sinal de descuido ou velhice. Cada vez mais mulheres de variadas idades estão assumindo seus fios como eles são, dizendo adeus à tinturas e tonalizantes.

Esse processo de transição geralmente se dá após a falta de identificação com cabelos opacos e sem vida, que vão se tornando cada dia mais danificados após tanta química. Foi o caso da paulista Elisa Colepicolo, que relatou à página Tenho cabelos brancos, e daí?, uma comunidade de apoio online às grisalhas, sobre como foi abandonar a visita ao salão a cada 15 dias para dizer sim aos seus fios naturais:

“Comecei a ter cabelos brancos aos 16 anos – e com os tonalizantes também. Aos 26 comecei a notar que tonalizar já não era fácil, e passei para a tintura. Aos 32 estava com o cabelo manchado, tendo que fazer retorques a cada 15 dias, sem cachos, danificado, triste. Odiando esse processo e curiosa sobre a situação real do meu cabelo (que mal lembrava que cor era), aproveitei um corte curtinho que fiz para experimentar ser natural. O máximo que poderia acontecer seria eu não gostar e, 40 minutos depois, estar tingida de novo. Em 2014 me libertei da tinta e, pra registrar o processo e dar referência em português (uma raridade na época) pra outras mulheres na mesma situação, criei o blog Projeto Gris. Lá se vão 2 anos. Nunca mais tingi, tonalizei nem sequer cortei meus cabelos. Eles voltaram a ter brilho e forma, como há muito não acontecia. Eu voltei a ter paz com meus cabelos e, depois de um longo processo de aceitação (lutando contra toda a pressão social da beleza padrão), hoje não consigo mais me imaginar diferente. Me sinto linda assim! E incentivo todas as pessoas que me perguntam. Assuma! Seja você! Seja feliz!”.

O depoimento de Elisa fez sucesso, e além de inúmeras curtidas e compartilhamentos, veio acompanhado de muitos outros desabafos nos comentários:

“Os meus estão assumidos brancos desde 2010! Aguentei a pressão e não me arrependo! Os meus brancos apareceram por volta dos 12 anos!” – Helena Leardini

“Faz uns 3 anos que os meus estão livres. Agora tô deixando crescer de novo! Adoro quando me perguntam aonde fiz os reflexos brancos.” – Sonaira Dávila

“Amei, Elisa Colepicolo! Os primeiros fios brancos já estão acontecendo por aqui. Estou na fase da aceitação. É difícil, me dei conta de como ainda estou a mercê das pressões sociais e padrões de beleza, mas tenho certeza que vou me libertar. É uma constante desconstrução, mas eu chego lá. Adorei o projeto! Parabéns e sim, você está linda!” – Teresa Duque Estrada

“Adoro ter cabelos brancos. Tenho desde os 30 anos e agora com 60 estão cada vez mais bonitos!” – Fátima da Silva

“Serei e já sou dessas… Rsrsrs embora eu não tenha muito cabelo, mas os brancos tem dado o ar da graça, envelhecer faz parte se amar é tão natural quanto…” – Luciane Ramos Madruga

“Cansei de tirar a originalidade do meu cabelo. Assumi de vez os brancos, que aliás já amava. Parabéns a todas nós que aguentam com todo orgulho, as críticas amargas e até acho, meio invejosas. Pois pra isso temos que ter personalidade forte, que acredito que quem critica, não tem!” – Cláudia Rogéria Moura

Apesar de tanto apoio, a resistência e o preconceito com os fios prateados ainda é grande.Seja por pressão da sociedade, seja por falta de costume mesmo. O fato é que deve ser libertador não depender mais de tinturas e reconhecer seu cabelo como ele realmente é, do jeitinho que a natureza fez. Mas, se você não gosta dos seus fios assim, tudo bem. Vale branco, vale loiro, vale ruivo, vale castanho, vale preto, vale rosa e vale azul também. O que não vale é se tornar escrava de algo que não seja para agradar quem mais importa na sua vida: você!

Imagens © Reprodução Facebook

As mulheres estão assumindo seus cabelos brancos  não importa a idade - corte

Link pra matéria online: http://www.hypeness.com.br/2016/08/as-mulheres-estao-assumindo-seus-cabelos-brancos-nao-importa-a-idade/

“Seja inovadora – mas não muito”

Tenho 34 anos e desde 2014 assumi meus cabelos brancos – e são muitos!

Quando decidi assumir percebi que temos pouquíssima informação em português sobre isso. Foi quando decidi registrar meu processo aqui no Projeto Gris, pra tentar ajudar outras mulheres que tenham vontade de seguir pelo mesmo caminho.

E tenho a dizer que a desinformação sobre isso ainda é gigante. Por isso muita gente, muito cabeleireiro inclusive (alguns até falando isso em reportagens de jornais, revistas e internet), dá bola-fora.

Ontem li esse artigo aqui, em que citam uma matéria no jornal com comentários de um cabelereiro “dando dicas”. Fiquei chocada com o despreparo com o gris.

Primeiro que usar mais química para tirar química é uma loucura. Seja descoloração, tintura ou tonalizante, a não ser que seu cabelo seja 100% branco, de qualquer jeito você vai ter que passar pelo ano e meio com cabelo com duas ou mais cores. Mais fácil usar uma maquiagem lavável durante esse período, se a bagunça de cores te incomodar muito, ou cortar curtinho pra crescer com eles naturais de uma vez. Mas não apele pra química, não vale a pena.

Outra coisa é esse estigma de que mulheres de cabelo gris não podem ter cabelos compridos. Ué, se você já está inovando ao assumir seu gris, inove tendo o corte que te agradar – seja ele máquina 3 ou até a cintura!

Inovadora você! Mas vai manter esse cabelão? Grisalho geralmente é curtinho, né?

Inovadora você! Mas vai manter esse cabelão? Grisalho geralmente é curtinho, né?

Outra balela é essa história de que cabelo branco é rebelde. Cabelo danificado e com química é rebelde, isso sim!

Então, faça um favor para você mesma – já que vai abandonar a tintura, abandone os cosméticos pesados (com petrolatos, silicones e afins). Você vai ver como seu cabelo vai ficar muito melhor.

Usar cabelo gris ou branco como escolha é novidade, então você ainda vai ver muito olhar torto e ouvir muita bobagem de cabeleireiro. Mas aceite seu cabelo como é e, acredite, você não vai arrepender. ;)

2 anos de Projeto Gris!

Olá-olá!

Depois de muito tempo sem atualizar, cá estou eu pra contar como vai meu Projeto Gris.

2 anos se passaram. Incrível como passa rápido. Decidi parar de tingir os cabelos nas barbas do meu aniversário de 2014. Aproveitei que estava com o cabelo bem curtinho, seria mais fácil me livrar da tinta só deixando crescer, e lá fui eu para um looooongo processo de aceitação e aprendizado.

A primeira fase, com o cabelo ainda bem curto mas já aparecendo o grisalho, não foi das piores. Meu cabelo tinha umas 4 cores diferentes mas as pontas coloridas ainda predominavam no visual, então não sentia tanto o que estava fazendo.

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A segunda fase foi quando comecei a perceber os brancos de verdade. Começou a chamar atenção e as pessoas passaram a me olhar na rua. Mas meu cabelo ainda estava curto, a cor das pontas ainda muito chamativas. E eu não via minha nuca.

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A terceira fase foi a mais difícil. Meu cabelo ficou só com as pontinhas coloridas, e a maior parte dos fios naturais. Isso significa que o topo da cabeça ficava bem grisalho e a nuca bem castanha. Foi a fase que eu pensei seriamente em abandonar o projeto. Eu acordava de manhã e tomava sustos me olhando no espelho. Desgostava da minha imagem, até porque meu cabelo estava sem corte (se eu cortasse ele demoraria ainda mais a crescer, então usava grampos, arcos, lenços e qualquer coisa que ajudasse a arrumar). Mas, sabendo do topo branco, imaginava que quando estivessem mais longos, esses fios de cima cobririam os outros dando uma sensação de degradê. Apostei nisso e segui.

Olha o cabelo crescendo!

Na quarta fase finalmente comecei a entender que a minha intuição estava certa. O cabelo estava crescendo, meus cachos voltaram depois de quase 10 anos sumidos por causa da tintura, minha satisfação começou a acontecer – e os elogios também!

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A quarta fase foi longa. Pouco mudou da sensação do gris, só o comprimento ia mudando – e me deixando mais feliz. :)

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Acho que agora posso considerar essa a quinta e última fase. Meu cabelo cresceu e minha intuição se confirmou: os fios brancos do topo da cabeça formam um degradê com a base ainda castanha e fica parecendo que eu fiz luzes platinadas. Muita gente me pergunta se eu fiz em salão. Muuuuitas mulheres me olham na rua. E quase todo mundo fica impressionado de eu ter 34 anos e tantos cabelos brancos.

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Com o fim da química pude entrar numa rotina low-poo, tirar todos os derivados de petróleo e metais pesados, deixar ele mais sadio. Fora que não sou mais escrava de tintura a cada 20 dias – o que me faz mega feliz!

Se vou seguir com ele assim pra sempre, não sei dizer. Sempre fui muito inquieta com cabelos, nunca tive medo de cortá-los, então pode ser que daqui a um tempo eu enjoe e decida mudar. Mas dessa experiência eu com certeza aprendi uma coisa: TINTURA NUNCA MAIS. Se for pra mudar de cor, só tonalizante – e de preferência o mais natural possível. Quem sabe roxo, azul, turquesa…?  :D

Enfim. Me acostumei completamente com meu cabelo gris. Às vezes olho umas fotos de quando tingia e acho esquisito, artificial. Agora sou eu de verdade. Gris aos 34. Hoje consigo dizer que gosto de verdade dele assim!

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Um ano depois

Esse mês completei um ano de processo gris.

Faz um ano que não pinto nem corto o cabelo. Isso porque quero deixar ele crescer. Quero ele comprido e gris. Sei que vai contra o “senso comum” de que cabelo gris tem que ser curto, mas acho que só vou curtir o meu 100% quando ele estiver abaixo do ombro.

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Sarah Harris, ídala, vou ter cabelão igual você, fia! rsrs…

Se você me perguntar como foi passar por esse processo durante esse ano vou dizer que não foi muito fácil não. E vou te explicar as fases.

1. Decisão

Quando decidi parar com a tinta estava com o cabelo bem curtinho. Achei que seria a hora certa de tentar, já que meu cabelo estava preto e a raiz crescendo no cabelo comprido dá um contraste fortíssimo, tipo “desleixo” mesmo. Foi uma boa decisão por um lado, mas hoje percebo que não necessariamente precisava ser assim. A Lia Amancio, por exemplo, encarou o cabelo tricolor num tamanho médio e talvez tenha sido até mais fácil, já que ela não teve que adaptar o corte também, só a cor.

Penso que se eu, com cabelo comprido ainda, resolvesse largar a tintura, poderia ir tonalizando com chás ou algo do tipo até o branco ter o tamanho suficiente para cortar as pontas tingidas. Seria uma solução.

Ou mesmo com cabelo curto, poderia ir tonalizando com os tais chás até chegar no tamanho que funcionasse melhor gris.

Enfim. Decidi abdicar de uma vez e assim fiz.

2. Acostumando

Acordei muitas manhãs e tomei um susto ao, ainda sonolenta, me olhar no espelho. 32 anos de cabelos castanhos ou pretos contra 1 de cabelo gris dá nisso.

Olhava no espelho e não me reconhecia. Pensei em desistir MUITAS vezes. Mas aí pensava: deixa o cabelo crescer primeiro pra ver como fica, depois você decide. É o que estou fazendo.

Tem dias que gosto muito, tem dias que desgosto. Quando estava mais curto, que a parte do topo da cabeça ficava bem gris e a nuca bem escura era pior. Quando ele começou a crescer mais e as mechas de cima começaram a sobrepor as mechas da nuca comecei a ficar mais feliz. Agora parece que eu fiz luzes cinzas.

3. Vida nova

Assumir o gris muda a vida. Porque você tem que tomar um mega cuidado pra não ficar com cara de velha. Não pode desleixar. Não dá pra usar aquela roupa surrada que às vezes você usava pra ir à padaria. Agora tem que ser mais cuidadosa com o visual todo, senão você fica apagadíssima.

Algumas roupas deixaram de combinar comigo porque chamar ainda mais atenção pro cabelo. O estilo acaba mudando. Eu, por exemplo, voltei a ser mais rock and roll. O estilo “florzinhas” tende a deixar a sensação de “velhinha”, então tem que passar a ter um estilão. Porque essa coisa meio sem personalidade pode te deixar com a cara da sua bisavó.

4. Os outros

“Você fez no salão ou…?”, “Não é possível que você tenha tantos cabelos branco, você é tão nova!”, “Não acredito que você fez isso!”, “Seu cabelo está incrível!”, “Ah, eu não faria isso!”…

Sim, você vai ouvir muitos comentários. MUITOS. As pessoas interagem muito com mulheres que resolvem assumir o cabelo gris antes do “padrão”. Se sentem impelidas à. Porque não entendem a decisão, porque sentem vontade e não tem coragem, porque acham bacana mas ainda não tem cabelos brancos pra isso. E interagem.

Ouço elogios de pessoas desconhecidas, coisa que nunca aconteceu antes. Passo por sabatina de perguntas dos conhecidos. Percebo pessoas encarando meu cabelo fixamente por muito tempo.

E no fim das contas recebo 95% de apoio contra 5% de dúvida. Porque não chegam a denegrir. Se não gostam, não falam. Quem fala, ou elogia ou pergunta, nunca critica.

5. Tingir, tonalizar ou assumir

TINTURA NUNCA MAIS. Posso até usar tonalizante industrializado (não pretendo), mas colocar aquela bomba química no meu cabelo não mais. Acredite, esse troço DETONA o cabelo. Sem tintura, o cabelo volta a respirar, a ter ser contorno natural, a ter brilho. Quem tinge o cabelo fala “o branco é rebelde”. Não é bem isso. O branco é mais grosso sim e tende a desidratar mais, mas o que torna o cabelo rebelde é a tinta. O cabelo fica enfraquecido e espiga, sem ter tratamento que realmente resolva já que tem uma camada grossa de produtos químicos sobre ele, impedindo que a hidratação natural aconteça.

Então, se você ainda não criou coragem de assumir seu gris, comece descartando a tintura. Passe pra um tonalizante ou pra uma coloração caseira a base de chá. É só procurar na internet, tem várias receitas (geralmente com chá preto e sálvia). Já vai ser um bom começo.

6. Futuro

As pessoas falam: “ah, novinha assim é fácil! Quero ver quando você for mais velha. Aí vai ver que o cabelo branco envelhece muito mais.” Eu penso nisso. Não sei se vai ser verdade. Acho que quando eu tiver 50 minha cabeça vai ser toda branca, igual à Vera Holtz. Se for, ótimo. Faço um corte mordernão e encaro. Se não, não sei dizer. Acho que se parar de me achar bonita volto a tonalizar. Pode ser amanhã ou com 50. O que vale é se sentir bem. E por enquanto eu tou bem assim.

10 meses

E o cabelo está crescendo!

E já está totalmente nítido o grisalho. Não dá mais pra disfarçar como há alguns meses atrás. Agora ele está quase chanel e o topo da minha cabeça é todo “sal e pimenta” – como o povo entendido chama cabelos grisalhos preto e branco.

Agora sou uma mulher “salt ‘n’ pepper”. ;)

 

 

E vou dizer que está engraçado. Outro dia o rapaz que corta frios na padaria perto de casa falou, tímido: “desculpa perguntar, mas esse cabelo é de salão ou…?”. “É meu mesmo”, respondi rindo e ele sorriu. E ele não foi o único a perguntar. Volta e meia acontece. Pessoas completamente desconhecidas às vezes perdem a vergonha e me abordam. Pessoas conhecidas – ou amigos de conhecidos – falam com mais desenvoltura. E geralmente a mesma coisa: “queria tanto ter coragem para assumir meu cabelo!”.

Eu encorajo todo mundo que me pergunta.

Não vou ser hipócrita: rola uns dias de “queria cabelo castanho hoje”. Mas não são muitos e passa. No geral eu fico é bem contente de não ter que me preocupar com raiz crescendo nem com manchas no cabelo e nem com hidratação.

Meu cabelo está tão bom que voltou a cachear depois de quase 10 anos. Desde que eu passei do tonalizante para a tintura não tinha creme no mundo que fizesse meu cabelo cachear. Agora, passando só shampoo, condicionador e RD (falo dele outro dia) meu cabelo fica ótimo! Isso porque ele está completamente sem corte já que não mexo nele desde julho passado.

Agora é esperar crescer ainda mais. Quero ver como ele vai ficar em tamanho médio. Ou grande. Por que não? Já que o topo da minha cabeça tem muuuuuito mais cabelo branco do que a parte perto da nuca, vai ser uma boa forma de “homogeneizar” tudo.

Pode deixar que eu volto e mostro.

Elisa Colepicolo - Projeto Gris